19/10/2012

As Sete Palavras de Jesus na Cruz


Introdução

As sete palavras de Jesus na cruz são uma coleção de breves frases segundo a tradição, pronunciadas por Jesus durante sua crucificação. Estas frases - ou palavras, em seu sentido lato - são objeto da devoção especial e meditação entre os Cristãos, e foram recolhidas dos Evangelhos. Sua ordem e expressão variam ligeiramente entre os diversos Evangelhos, e seu conjunto completo não é encontrado em nenhum deles. Todavia, suas palavras encerram lições que podemos aprender e situações desesperadoras. Jesus, comparado a uma ovelha, foi o sacrifício único para a redenção do homem de seus pecados. Como uma ovelha muda foi levado ao matadouro... Porém, não ficou totalmente calado, pois, os Evangelhos relatam as palavras ditas na cruz, no momento mais estarrecedor na vida do Filho de Deus...

Primeira Palavra

"Pai, perdoai-os porque eles não sabem o que fazem" (Lc, 23:34). Esta primeira frase foi dita em forma de prece para que Deus perdoasse a ignorância daqueles que o crucificavam: os soldados romanos e a multidão que o acusava. Esta prece reflete e confirma a exortação anterior de Jesus, quando instava a seus seguidores que amassem e perdoassem seus inimigos (Mt 5:44). Alguns manuscritos antigos omitem a menção àquela frase... Nos último momentos de vida terrena, Jesus encontrou forças para orar por aqueles que o perseguiram. Sua primeira palavra na cruz foi em forma de oração intercessória e de perdão àqueles que zombavam e o crucificavam... Jesus amou os seus inimigos até o último momento de vida. Esta atitude ensina a imensidão da graça e do amor a que veio proclamar entre os homens terrenais. É a consumação do princípio pregado por Jesus, enquanto caminhava sobre a terra, amar aos inimigos para que o nome de Deus fosse glorificado. É uma lição extremamente dificil de aprender, mas é base do cristianismo genuino que tanto pregou em seus sermões, ao longo de seu ministério terreno. Agora, nos últimos instantes, pendurado no madeiro, encontra forças para interceder, pedindo perdão por eles... A primeira palavra de Jesus representa a sua condição de oferta expiatória pelos pecados da humanidade. 

Segunda Palavra

“Em verdade eu te digo que hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23:43). No momento em que Jesus é crucificado, dois ladrões também o são, e suas cruzes se erguem ladeando a de Jesus. O ladrão à sua direita reconhece sua inocência, e pede que seja lembrado quando Jesus entrar em seu Reino, e Jesus lhe responde daquela forma. Esta resposta é o prenúncio da situação que seguirá a divindade gloriosa de Cristo. “... Estarás comigo no Paraíso” significa que as palavras do Evangelho de João, estão prestes a se cumprir, porque Jesus disse: “Na casa de meu Pai há muitas, e eu vou preparar-vos lugar...” De fato, este prognóstico se revela, não somente pelo fato de estar sendo sacrificado na cruz, mas como cumprimento do que dissera aos discípulos. O paraíso, para o ladrão arrependido, é a salvação da sua alma e o descanso eterno que irá desfrutar a partir destas palavras. Ninguém poderia dizer algo tão consolador e remidor, senão o Filho de Deus. Cristo é o salvador, e para este momento se preparou antes da fundação do mundo. Era mister que resgatasse aquela alma das algemas da morte, e só poderia ser ali, no último momento de ambos: O arrependido e O Salvador. A palavra é uma verdadeira promessa que se cumprindo na carreira histórica da Igreja. Pois, na morte de Cristo, é estabelecido o corpo místico e organizacional (a Igreja) para a continuidade do plano de Deus. A porta da Graça se abre através da segunda palavra, dita na angústia extrema, dor e morte. O Cordeiro estava sendo imolado para que os homens, inclusive o ladrão arrependido, pudessem ter acesso livre ao Pai. Esta, podemos dizer, é a liberação do caminho para restauração da imagem e semelhança de Deus, no homem decaído da comunhão no Éden. A profecia de Gênesis 3.15 se cumpre com o último brado na cruz...

Terceira Palavra

“Mulher, eis aí teu filho; olha aí a tua mãe” (Jo 19:26-27). Jesus, do alto da cruz, contempla os poucos amigos que o seguiram até o Calvário, e com aquelas palavras confia seu discípulo (cujo nome não é citado, mas crê-se que era João) aos cuidados de Maria, e ela a ele. Percebendo a situação do discípulo e de Maria, ele estabelece o laço familiar entre ambos. Na terceira palavra, dita do alto da cruz, Jesus enseja o amparo familiar entre pais e filhos, principalmente das mães. Preocupou-se com a família, não deixando-as desamparadas. Também, representa a íntima relação que continuaria tendo com futuros convertidos, pois, ele mesmo, posteriormente, disse: ...E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém (Mt 28.20). Jesus, sendo Deus-Filho, não esqueceu este pequeno detalhe, apesar das fortes dores e câimbras que prenunciavam sua morte. A terceira palavra revela que, à custa de grande esforço, Maria e o discípulo não ficariam à própria sorte.

Quarta Palavra

“Eli, Eli, lama sabachthani? (Deus, meu Deus, por que me abandonaste?)” (Mt 27:46; Mc 15:34). Esta frase é uma que se destaca no conjunto, por ter sido a única registrada tanto por Marcos como por Mateus, e por ter sido transmitida a nós em uma outra linguagem, o aramaico. Expressa o sentimento de total abandono experimentado por Jesus em seu sacrifício e a necessidade de enfrentar a agonia sem qualquer valimento, nem mesmo o divino, a fim de cumprir seu desígnio e realizar sua obra de salvação. Às vezes o silêncio de Deus é uma provação que temos que passar. Mas, mesmo calado ele observa a tudo até o momento de entrar em ação novemente. Jesus clamou em meio ao abandono circunstancial do último esforço, até que tudo se consumasse. Deus virou seu rosto para não contemplar o sofrimento do Filho Amado. Sim, porque dissera à beira do Jordão, quando Cristo desceu às águas batismais a fim de cumprir toda a Lei e os Profetas. O céu se abriu sobre ele e a voz de Deus bradou das alturas dizendo: E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo. O clamor de Jesus, neste momento, denota a insuportável dor da morte... Eram os últimos instantes de sua vida terrena. A morte o calaria por algum tempo, até que ressuscitasse num corpo glorioso e eterno. O momento de abandono parece inimaginável. Deus teve coragem de abandoná-lo a própria sorte? Não. O momento era difícil para ambos. Jesus entregava sua vida em resgate de muitos, era o preço para a redenção da raça humana. Deus estava recebendo o único e suficiente sacrifício do Filho Amado. Era a morte do Cordeiro expiatório para os povos até que retorne, com alarido de trombetas, para arrebatar a Igreja que nascia dessa morte sacrificial.

 

Quinta Palavra

“Tenho sede” (Jo 19:28). Aqui fica patente a natureza humana de Jesus, não era uma reclamacão ou um pedido mas uma afirmação clara de que Ele era de carne osso, tinha fome e sede como todos os humanos. E, é por isso que se compadece nós, pois conhece todas as nossas dores (Hb 4:15 e 15). A sede de Jesus está baseada no fato da humanidade ser patente, pois, além de homem era, também, o Deus-Filho. Era natural que tivesse sede, pois, sua vida se esvaia na perda de sangue pelos sofrimentos sofridos pelos açoites e pela crucificação. Conforme as forças enfraqueciam, o corpo desnutrido pelo esforço sobrenatural submetido a execução, o deixou sedento. Porém, passaram uma esponja sobre seus lábios... Estava, pois, ali um vaso cheio de vinagre. E encheram de vinagre uma esponja, e, pondo-a num hissope, lha chegaram à boca. A simbologia tirada desse episódio revela que Jesus, passando por essa agonia, sabe o que as almas necessitam para serem saciadas espiritualmente. Jesus teria que suportar o flagelo da morte que chegava para, enfim, se manifestar como a fonte de água viva que jorra para a vida eterna, e quem dela beber não morreria, mas passaria da morte para a vida. Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna. A carne de Cristo estava lacerada pelos espancamentos e crucificação. Todavia, era o aparecimento da fonte de água viva que jorrava a partir daquele momento fatídico. Jesus sentiu sede, sim, mas também se tornou a fonte da salvação eterna para muitos que nele crê. Como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação, a qual, começando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram; Porque convinha que aquele, para quem são todas as coisas, e mediante quem tudo existe, trazendo muitos filhos à glória, consagrasse pelas aflições o príncipe da salvação deles. E ouvi uma grande voz no céu, que dizia: Agora é chegada à salvação, e a força, e o reino do nosso Deus, e o poder do seu Cristo; porque já o acusador de nossos irmãos é derrubado, o qual diante do nosso Deus os acusava de dia e de noite.

Sexta palavra

“Está consumado” (Jo 19:30). Jesus declara que tudo o que devia ser feito foi cumprido, e é interpretada como um sinal de que a obra de salvação se tornará eficaz por intermédio de seu sacrifício em prol de todos os homens. E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito. Esta palavra encerra o ministério terreno de Jesus, e passa a exercer o ministério, unicamente, divino. Agora, intercedendo pelos seus diante do Pai, apresenta-se como o Cordeiro imolado no sacrifício exigido para a expiação dos pecadores. Obra continua, pois as nações, povos, tribos e línguas necessitam ouvir este brado de consumação vitoriosa. Embora alguns pensem que na cruz, com a morte física de Jesus, tudo tenha cessado... Não! A obra continua até a consumação dos séculos: Eis que o SENHOR fez ouvir até as extremidades da terra: Dizei à filha de Sião: Eis que vem a tua salvação; eis que com ele vem o seu galardão, e a sua obra diante dele. E clamavam com grande voz, dizendo: Salvação ao nosso Deus, que está assentado no trono, e ao Cordeiro. Quem nos salvará desta geração perversa? Quem nos resgatará da impunidade humana? Quem nos livrará do fogo do inferno? Jesus! Ele é o salvador que no ato desta palavra depositou a cédula que fora imposta diante de Deus em cobrança pelos pecados dos homens. Jesus, além de Rei, Sacerdote e Profeta, também se torna o Advogado dos advogados, e com a função especifica de absolvidor dos acusados diante de Deus. Sim, quando a acusação chega diante do trono de Deus, suas marcas e feridas são apresentadas ao Pai, e lembra-se desta palavra: Está consumado. A consumação da obra não foi para satisfazer os algozes que o queriam morto, mas para Advogar através do sangue vertido no Calvário. Porque, eis que o SENHOR fez ouvir até as extremidades da terra: Dizei à filha de Sião: Eis que vem a tua salvação; eis que com ele vem o seu galardão, e a sua obra diante dele. A consumação foi para dar ao seu povo conhecimento da salvação, na remissão dos seus pecados; Portanto: Seja-vos, pois, notório que esta salvação de Deus é enviada aos gentios, e eles a ouvirão. A salvação está em Jesus Cristo, porque convinha que aquele, para quem são todas as coisas, e mediante quem tudo existe, trazendo muitos filhos à glória, consagrasse pelas aflições o príncipe da salvação deles.

Sétima Palavra

“Pai, em tuas mãos entrego meu espírito” (Lc 23 46). Terminada sua agonia, Jesus se abandona aos cuidados do Pai e, assim fazendo, expira. Sua morte, para a multidão que o assistia, foi o suposto fim de sua vida. Todavia, estava apenas começando outro ministério, para a vida de muitos. É o ministério da graça salvadora do crucificado. Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. A entrega total a Deus revela a obediência de Cristo até a morte, e morte de cruz. É a salvação prestada à humanidade, mesmo sem merecimento. É por isso que chamamos de graça salvadora, porque se dependesse de merecimento, há muito teríamos sido aniquilados. O mundo não pôde oferecer alguém que pudesse arcar com as exigências espirituais requeridas por um Deus Santo. Foi necessário um mediador capaz de preencher os requisitos para um sacrifício aceitável e permanente. Cristo foi o Messias de Nazaré que, mesmo encarnado na condição de homem de dores, experimentado nos trabalhos, assumiu as prerrogativas dessa exigência. Tendo dito esta palavra expirou, e tombando a cabeça rendeu-se eternamente a Deus. Sua divindade, majestade e poder foram restituídas de forma contumaz, pois, ele disse: É-me dado todo o poder nos céus e na terra. Este poder agora é distribuído àqueles que o seguem nas mesmas condições da exigência espiritual de um Deus Salvador e Misericordioso. Esta última palavra cessa o martírio de muitos homens, que creram naquele que fora pregado no madeiro. Verdadeiramente este é o Filho do Deus vivo. Seguindo seu exemplo devemos entregar, a cada dia, nossa vida carnal para ser crucificada, e como ele exclamar: Pai, em tuas mãos entrego meu espírito... Jesus morreu, mas ao terceiro dia ressuscitou em glória, e agora vive e reina para todo o sempre. Como e com ele, também, viveremos e reinaremos se todos os dias entregarmos o nosso espírito, e confiarmos não desfalecendo da nossa fé. Portanto, aceite a Cristo, entregando seu corpo, alma e espírito pela redenção conquistada a preço de sangue, na rude cruz do Calvário. Amém!

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