"...Clamarão a mim, virão a mim, e eu os ouvirei" (Jr 29.12).
Judas, ao trair Jesus, foi tomado pelo remorso e isso o fez ir ao templo para devolver as moedas que recebera pela traição. Tentou buscar alívio para sua consciência pesada indo até os sacerdotes religiosos. Teve grande surpresa da parte daqueles que deveriam ajudá-lo! Fizeram o contrário. O discípulo traidor, ao dizer que traíra o sangue inocente, esperava ajuda e uma absolvição pelo delito que cometera. Os "sacerdotes" lhe responderam: "Que nos importa"? "A responsabilidade é sua". Estavam dizendo que não tinham nada a ver com aquele problema. Se omitiram e mandaram Judas se virar sozinho. Foi a grande decepção! Não somos perfeitos. Devemos, quando erramos ou falhamos, ir a Jesus para pedir ajuda, desculpas ou perdão. Somente Cristo pode perdoar nossas ofensas...
"Por" e "Com" Cristo.
Há muitas pessoas que podem ajudar, mas geralmente elas decepcionam e não têm poder para perdoar os pecados como Jesus. Quem sabe Judas até quisesse perdão, mas foi ao lugar errado! Se tivesse procurado o Mestre e confessado seu pecado, certamente, Jesus teria assumido a responsabilidade do problema, dizendo: "Judas, o seu problema agora é meu". Nas adversidades que enfrentamos o dia-a-dia somos envolvidos num emaranhado de sentimentos controversos; é nesse momento que temos que ter o discernimento para não pecarmos contra Deus. Há pessoas que existem somente para manipular outras pessoas, com fins escusos e pouco probatórios. Tais envolvimentos devem ser deixados de lado, porque não podem acrescentar qualquer valor ético, moral ou espiritual em nossas vidas. No caso de Judas, observamos que seu envolvimento com os discípulos e com o próprio Cristo foi meramente anti-ético, imoral e sem nenhuma espiritualidade. Se Judas fossem um dos que fizessem parte do convívio do Mestre, ele teria discernido a situação e teria se escusado dela, mas para que fosse cumprido toda a vontade de Deus, ele foi o instrumento utilizado por Satanás para realizá-lo. Lembre-se, Judas poderia ter escolhido o melhor do pior, ou seja, deveria ter escolhido sofrer "por" e "com" Cristo, mas preferiu dar ouvidos aos articuladores daquele plano "maquiavélico", perpetrado pelos "sacerdotes" Anás e Caifás.
Arrependimento Tardio.
A culpa quando não tratada no devido tempo torna-se o algoz do coração, fazendo com que se transforme numa pedra inquebrável. Esse sentimento, ainda que remediado, não pode gerar qualquer alívio ou liberdade espiritual porque ativa a consciência que o acusa de sua brutalidade. O que pode acontecer, no mínimo, é o sujeito se arrepender tardiamente, como aconteceu com Judas. Após se arrepender de sua atitude brutal, tentou remediar a situação buscando se livrar da culpa, mas já era tarde demais o mal havia sido consumado. Claro, não podemos esquecer que tudo fazia parte do plano de Deus para que a humanidade fosse resgatada de seus pecados, mas também, não podemos deixar de lado a liberdade de escolha do indivíduo, e Judas podia ter escolhido ficar na condição de discípulo e não de "traidor". De qualquer forma, o plano de Deus se cumpriu, e nas atitudes de Judas aprendemos que alguns envolvimentos pessoais só promovem a destruição e a ruína. Para ele não restou mais nada senão a forte expectativa de culpa e um arrependimento tardio, que culminou no seu suicídio.
"Traidores da Palavra de Deus".
Judas deveria ter se esquivado da proposta diabólica feita pelos "religiosos" do Templo. Mas, a ganância foi maior que a racionalidade, mais forte que a espiritualidade, se é que tinha... O seu caráter materialista está explícito na passagem em que Jesus foi ungido com o perfume caro! Todos os discípulos se indignaram com aquela atitude. Mas, somente Judas saiu para se encontrar com os príncipes dos sacerdotes, e dizer: "Que me quereis dar, e eu vô-lo entregarei? E eles lhe deram trinta moedas de prata. E, desde então, buscava oportunidade para o entregar" (Mt 26.15,16). Veja que todos se indignaram com o "suposto" desperdício do produto caríssimo, mas somente um saiu do grupo para engendrar o complô da traição, levando Cristo ao Calvário. Na esfera evangélica há muitos "Judas" que se "conluiam para trair" a confiabilidade da Palavra de Deus, enxertando-lhe "dogmatismos heréticos" com o fim de crucificar a fé alheia, transformando o rol da igreja num cenário em que peças teatrais são apresentadas ao povo. De forma que comovem-lhes os sentidos, transformando-os em investidores do "imediatismo" pela "vontade louca" de "ter" mais do que "ser". Então, encenam o ato de arrancar-lhes o "patrimônio espiritual" para colocar no lugar a "sede da ostentação materialista". Supostamente, muitos se dizem indignados, mas pouco fazem algo para combater o "evangelho imediatista" que corrompe a "dignidade da alma" e embrutece o coração. E, assim como o traidor Judas, surgem muitos outros "traidores da Palavra de Deus", distorcendo sua eficácia quanto ao genuíno arrependimento e, ao invés de pedirem o perdão pelos pecados, acumulam falsos arrependimentos e acabam se matando nas próprias atitudes, tornando-se covardes quanto à "chamada" e "vocação" de Deus.
A culpa revela a insinceridade dos traidores. Na ocasião em que Jesus fora ungido por Maria em Betânia, a crítica dos discípulos parecia ter lógica, mas o Mestre rechaça tais opiniões com vigorosa defesa pela mulher. Jesus repreendeu os críticos, porque não foi a primeira vez em que ela era alvo de afronta. Marta a tinha criticado pelo desperdício de tempo quando, aos pés de Cristo, ficava ouvindo suas palavras, deixando os afazeres do lar. Cristo viu que ela escolhera a melhor parte. Assim, com uma defesa proeminente, Jesus a elogiou dizendo que fizera "uma boa obra" (Mc 14.6). Cristo viu a preciosidade do ato e não o alto valor do perfume. O Filho de Deus viu o incomparável preço de uma vida consagrada e o espírito quebrantado de um verdadeiro adorador, atitudes que faltaram no caráter de Judas. Maria, aquela mulher que chorou diante de Cristo, reconhecendo-o como o autor da vida, quando seu irmão Lázaro estava morto por quatro dias, estava sendo recompensada por este ato de devocional sinceridade. Com real discernimento espiritual, sentia que seria a última vez que poderia prestar sua homenagem ao Senhor durante a sua vida na terra, enquanto no corpo mortal. Jesus, como resposta, deixa transparecer que só ela teve tempo de ofertar-lhe o carinho final, já que outros não conseguiriam fazê-lo (Lc 23.56; 24.3). Em contraste com as críticas recebidas, Jesus a defende veemente, e aceita a homenagem. Enquanto isso, a comparação entre sua atitude espiritual e a intenção de Judas, percebemos o abismo entre o coração sincero e a maldade da "ganância materialista", já que Judas cuidava da bolsa de ofertas e dali tirava o que queria. Pensava que Jesus não sabia e não via nada... Ledo engano. Jesus "vê" e "sabe" tudo!
"Suicídio Espiritual".
A culpa fundamentalista leva à morte espiritual e, não raras as vezes, à morte física. Na falsa preocupação com os pobres Jesus se vê na posição de defensor, e ele é. Ao falar em defesa da mulher (Maria), ele deixa inferido no texto que o único pobre com que Judas se preocupava era ele mesmo! Por isso, dentro da confusão de mente, a culpa fundamentalista revela os "resmungões mercenários" da casa de Deus. Eles mostram o aspecto avarento e egoísta contra aqueles que se dispõem a gastar dinheiro com o seu "próximo pobre", destilam o seu veneno mortal da inveja e da covardia. Em vista disso, em tempos atuais observamos que, o "evangelho imediatista" tem arrastado "multidões para um sacrifício de tolo", onde o mais importante é "sacrificar" do que "obedecer", por isso a criação de inúmeras "campanhas pseudas pentecostais" com o objetivo de "angariar fundos" para a obra de Deus. Mas, a culpa fundamentalista encerra na sua própria justiça o engodo da mentira, levando os "gananciosos mercenários", tomados pela síndrome de Judas, ao "suicídio espiritual". Esse mesmo Judas que fez objeções contra o mau uso do perfume de grande valor, foi o que vendeu Jesus por trinta moedas de prata. Em paráfrase nota-se que, a despeito de suas intenções sociais, econômicas e políticas, sem a preocupação com o aspecto espiritual, Judas se alia aos seus próprios interesses visando lucrar com a traição. Certamente, quando chamado por Cristo para compor a elite dos discípulos, achou que Jesus seria coroado "rei" em lugar de Herodes já no tempo da sua humanidade na terra dos viventes. Mas, quando percebeu a dureza que era seguir a Cristo em renúncia pessoal, decepcionou-se e passou a roubar a bolsa de ofertas que ele mesmo carregava. Suas intenções e seus pensamentos o levaram a uma irritação com o desperdício de dinheiro visto no ato daquela mulher partidária da devoção e da adoração ao Senhor. Ele achou que poderia ter sido repassado para o seu bolso e isso deu oportunidade para o diabo manipulá-lo, vindo assim o seu triste fim.
"Adoração Verdadeira".
A culpa, no fim das contas, cobra um alto preço. O preço da culpa tem seu valor excedido, não pelo que se gasta na "adoração verdadeira" dos servos de Deus, mas é muito maior no aspecto espiritual porque leva à morte sem chance de perdão. O cuidado a ser tomado não é o quanto se investe na obra de Deus, mas em como se está investindo. O "Evangelho Das Boas Novas" não é um produto a ser comercializado a bel prazer, para satisfação pessoal e enriquecimento próprio. É algo sobrenatural vinculado à vida e obra de Jesus na terra. Seus exemplos devem ser seguidos na íntegra, e seus ensinos analisados à luz do discernimento espiritual, por que "o espiritual discerne bem todas as coisas, e de ninguém é discernido", é uma prédica irrefutável diante daquilo que desejamos da parte de Deus. Em vista do galardão desejado o que podemos notar, no enredo dessa passagem que envolve a traição, é que o motivo do ato de Maria derramar o perfume sobre a cabeça de Jesus foi o amor. Um amor que revela. não somente, a adoração e a reverência, mas também simboliza o derramar sua vida aos pés de Cristo. Além disso, esse ato entra para os anais da história como lembrança do Senhor, que disse: "Em verdade vos digo que, onde quer que este evangelho for pregado, em todo o mundo, também será referido o que ela fez, para memória sua" (Mt 26.13). Em contra partida, Judas entra para a história como exemplo que jamais deve ser seguido, pelo fato de sua indignação e avareza, corroborado com a manipulação satânica. Portanto, é mister que cada um dos crentes em Jesus Cristo saiba que o mundo não pode dar o que não lhe pertence. Somente Deus pode abençoar a nossa vida, desde que pautada na fidelidade da Palavra e dos Seus mandamentos.
A Religião De Judas.
A culpa não pode se torna uma espécie de "muralhas da China" no campo espiritual, isso impedirá o crente de ver a extensão da benção e promessas de Deus em sua vida. As lições que tiramos desse episódio é fato real para mudarmos nossa atitude humana e carnal, e que a nossa culpa recaia sobre o sacrifício de Cristo, através do perdão estabelecido pelo derramamento do seu sangue na Cruz do Calvário. E o ensinamento prático pode ser observado da seguinte forma:
- A crítica e a consagração pela devoção revelarão aqueles que não têm discernimento espiritual e não vivem à altura dessa dedicação a Deus, fazendo-os perguntar: "Por que tanto desperdício"? Somente as pessoas que dedicam tempo e dinheiro, ou esforço penoso em prol da Obra de Deus, poderá testificar que foram criticados e afrontados, por conta da fidelidade espiritual ao Senhor. Portanto, mesmo que isso esteja acontecendo, não siga a religião de Judas. Se a sua ação tem a aprovação do Mestre, não se importe com o que o mundo vai dizer, siga em frente.
- Em contraste com a intenção de Judas notamos, também, a originalidade do amor revelado na dedicação de Maria. Judas era materialista e se preocupava com o "aqui" e "agora", e na sua ideologia de "reino" achava que o o perfume poderia ser vendido e o dinheiro distribuído aos pobres. Porém, ele não havia entendido que o "Reino do Mestre" não era desse mundo. O amor descobre novas maneiras de servir e o povo de Deus precisa dessa originalidade e sinceridade no pregar a Palavra de Deus. Essa originalidade (Naturalidade) não é conseguida com treinamento, oportunismos, cérebro ou qualquer outra coisa... mas com o coração! Quando o amor de Deus é derramado sobre a igreja, ela transborda com bênçãos espirituais e contagia muitas pessoas ao derredor. A síndrome de Judas revela uma culpa destruidora do "homem religioso", e a atitude Maria o "discernimento espiritual do crente" que obedece ao Mestre!
- Judas perdeu a oportunidade de consagrar-se mais em favor da chamada do Senhor. A oportunidade perdida dificilmente volta. As críticas foram externadas por pensarem que era um desperdício o que Maria fez. Significa que perderam a oportunidade de homenagear a Jesus, pois já estava chegando o fim, achando que o Mestre permaneceria com eles ainda muito tempo, ao contrário dos pobres. Judas preferiu traí-lo, mas Maria preferiu adorá-lo com o que tinha de melhor, e recebeu um galardão sem igual. As oportunidades são oferecidas a cada dias, algumas aparecem uma vez na vida e desaparecem para sempre. Há coisas que podem ser feitas a qualquer hora, mas outras têm de ser feitas "agora" ou "nunca". As oportunidades que temos a cada dia para fazer a diferença não devem nos impedir de desenvolver algo especial, quando surge a oportunidade que nunca mais voltará. Portanto, há um versículo na Bíblia Sagrada que, nas palavras de Jesus, revela essa "ortodoxia", dizendo: "Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, porque o Pai procura a tais que assim o adorem" (Jo 4.23).
"Evangelho Genuíno" (versus) "Religião De Judas".
Enfim, a culpa não deve ser o flagelo na vida do crente, simplesmente porque errou em alguma parte da vida, mas deve buscar o aconselhamento e o perdão de Deus, arrependendo-se e não praticando mais o erro. Cada cristão deve aproveitar a oportunidade única, de cada dia, para realizar algo especial para Deus, o que pode ser "a fé não fingida que uma vez foi dada aos santos". Quer unguento mais precioso do que este, a fé? Ou é preferível "a mala cheia de dinheiro" com a expectativa da culpa fundamentalista que leva ao suicídio espiritual? Pense bem! Eis diante do povo de Deus a oportunidade única de fazer como Maria fez, derramar seu "amor incondicional" em favor do "Evangelho Genuíno", que restaura vidas e transforma corações. Mas, se escolher a "religião de Judas" saiba que a forca diabólica está preparada para destruí-lo para sempre... Concluindo a reflexão sobre culpa, podemos dizer que a bondade provoca o mal a ser revelado,e os atos de dedicação despertam as críticas dos homens que buscam somente os bens deste mundo.
Fontes:
João, o Evangelho do Filho de Deus.../ Myer Pearlman - 1. ed. - Rio de Janeiro: CPAD, 1995.
A Bíblia Sagrada. Traduzida em Português por João Ferreira de Almeida. Revista e Corrigida - ed. 1995. - São Paulo: SBB, 1995.
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