15/01/2010

SÍNDROME DE ADÃO

“Deus sussurra em nossos prazeres, fala em nossa consciência, mas grita em nosso sofrimento” (C. S. Lewis).
“Dificilmente Deus usará um homem que não tenha ferido profundamente” (A. W. Tozer)

A realidade dos sofrimentos nos faz crescer. “Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis e dos filhos de Israel. E eu lhe mostrarei o quanto deve padecer pelo meu nome” (At 9.15,16). Não podemos perder o foco dessas palavras, pois o escolhido para pregar o evangelho aos homens é o elemento principal na “perseguição espiritual”.

Portanto, não devemos nos omitir a responsabilidade usando a “síndrome de Adão”, pois a perseguição é fato declarado pelo próprio Senhor. Então, de quem é a culpa quando vêm as perseguições? Das Evas que se tornam “bodes expiatórios”? Não! É da insubordinação quanto aos ensinos de Jesus, que formam as justificativas do tipo: “... Foi à mulher que tu me destes” ou “... Eu não sabia que a situação estava neste ponto”! Ou ainda, “... Foi fulano ou sicrano...” – esta é a síndrome de Adão.

Todos procuram um culpado, mas e Jesus? O inocente que deu a vida na cruz para a redenção do mundo. O que dizer sobre isto? Ninguém admite a culpa até que seja “desmascarado” diante da situação. Foi o que aconteceu com Adão, que diante de Deus teve coragem de culpar à mulher que lhe era adjutora. Muito cômodo por sinal, e assim agem muitos hoje. Não tem escrúpulos e não pensam duas vezes para culpar, alegando inocência, àqueles que são manipuláveis.

“O ser humano não tendo conseguido curar a morte, a miséria e a ignorância, lembraram-se, para ser felizes, de não pensar nisso tudo” (Blaise Pascal).

Em Gênesis observamos que Deus criou o jardim do Éden para que o homem vivesse bem. Foi exigida apenas a obediência ao Criador. Todavia, seria decisão pessoal e voluntária. O homem rejeitou as condições para uma vida de bênçãos, e as conseqüências foram lamentáveis. Por essa rejeição foi introduzido no mundo, a morte, o sofrimento, e foram estabelecidas as dúvidas e incertezas. O diálogo revela a conseqüência do pecado e a certeza do juízo. As palavras do casal prenunciam a síndrome que caracteriza o homem em todas as épocas.

A síndrome é manifestada pela nudez espiritual exposta pela aproximação do Senhor diante dos homens. A santidade de Deus revela a condição de pecado, e com isso, o homem não consegue olhar para si mesmo e assumir seus erros. Transfere a culpa para os “bodes expiatórios”. O homem foge da presença de Deus, e, até ouve a sua voz, mas não ousa encará-lo...

Os sintomas da síndrome, expostos no diálogo entre Deus e o homem, são visíveis em nossos dias: Sempre haverá um culpado pelos erros, e sempre fugiremos. Segundo Pascal “o ser humano não tendo conseguido curar a morte, a miséria e a ignorância, lembraram-se, para ser felizes, de não pensar nisso tudo”. Já a contextualização de Huxley vê a vida como uma eterna alegria, com a maximização do prazer, do sexo livre e descomprometido sob a constante fuga da morte, do sofrimento e do medo, entre outras mazelas. Portanto, os homens seriam “fabricados” de acordo com a necessidade – desde a intelectualidade até os serviçais (ignorantes). Quase todas as mulheres seriam esterilizadas, e o “produto” defeituoso descartado, pois, não há espaço para o amor e a misericórdia, – só o sucesso e a alegria importam.

Quem sabe o escritor e os intelectuais da época, avessos à influência do pensamento judaico-cristão na cultura ocidental, não imaginavam que essa visão degradante e individualista seria a realidade do pensamento da pós-modernidade.
As palavras do poema “Perdigueiro do Céu refletem o pensamento:

Eu fugia dele noite e dia,
Fugi durante o passar dos anos,
Fugi dele nos labirintos dos caminhos de minha própria mente.
No meio das lágrimas eu me escondia dele,
E em meio aos risos fugazes das esperanças passadas
Eu acelerava (Tompson).


A consciência do erro é inerente ao ser humano de forma que Paulo, em sua carta aos Romanos, disse: “Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis” (indesculpáveis). Essas palavras revelam que o pecado é a recusa do homem por reconhecer a verdade que ele sabe acerca de Deus. Verdade revelada também pela natureza, sendo perceptível à humanidade, daí serem indesculpáveis.

Paulo afirma: “Portanto, és inescusável quando julgas ó homem, quem quer que sejas, porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a outro; pois tu, que julgas, fazes o mesmo”. Apesar da consciência do juízo, o ser humano não consegue viver de acordo com os padrões divinos. Sequer consegue viver sob os padrões estabelecidos por ele mesmo. Tais questões, intimamente ligadas ao homem, levam a grandes questionamentos sobre o significado da vida, e revelam a necessidade premente que o ser humano tem de Deus. Sobre o assunto, as palavras reflexivas de um escritor indiano, declaram: “Quando eu falo sobre propósito e significado, não me refiro apenas a um sentimento de paz existencial. Refiro-me a uma direção na vida que sustenta a razão e a emoção”.

A humanidade precisa ouvir Deus falar, pois, o hedonismo tem causado um efeito anestésico na alma dos seres humanos. Neste aspecto podemos entender a expressão: “Deus sussurra e fala à consciência através do prazer, mas grita-lhe por meio da dor: a dor é o seu megafone para despertar um mundo adormecido” (C. S. Lewis). Talvez, esta seja a razão pelas quais muitos têm experimentado alguma dor e, mesmo assim, não notam que Deus está querendo falar-lhes.

A resposta pode ser encontrada no mesmo lugar onde os sintomas foram gerados – no Éden! Ali ficou claro que o homem não pode se esconder para sempre, ao mesmo tempo a humanidade ganha oportunidade de reconciliação através de Jesus, a “semente da mulher” que esmagaria a cabeça da serpente. Somente pela comunhão com Deus o homem alcançará a liberdade. No anseio de reafirmar a necessidade de Jesus temos a seguinte declaração:

“O caráter de Jesus não foi somente o mais elevado padrão de virtude, mas também o mais forte incentivo em sua prática, e exerceu uma influência tão profunda que podemos dizer com verdade, que o simples registro de três anos de atividade fez mais em prol da regeneração e da suavização da humanidade do que todas as reflexões dos filósofos e todas as exortações dos moralistas” (W. E. H. Lecky, citado por Ravi Zacharias).

Diante disso, é possível concluir citando Santo Agostinho: “Tu nos fizeste para ti, e nossos corações não acham paz até que descansem em ti”. Portanto, não cabe ao homem se autojustificar perante o semelhante, acusando-o de ser culpado quando a coragem da existência requer que tenhamos “paz com todos”, se possível. O desvencilhar dessa síndrome é possível quando reconhecemos que Jesus Cristo nos dá vitória em todos os eventos que nos cercam. O testemunho de fidelidade não é reflexo da consciência meramente comercial, onde o nome de Cristo é o produto da disputa. A sociedade cobra, com propriedade, acertos ilibados de homens que Deus chamou para realizar a sua obra, que é a pregação do “evangelho genuíno” para salvação e restauração da humanidade.

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