Introdução.
A vida de Paulo revela várias lições fundamentais para vivermos uma vida plena com Cristo e para Cristo. A sua trajetória está repleta de altos e baixos, principalmente no que concerne à pregação do Evangelho Pleno da Salvação. Mas o que mais chama a atenção é o meio com que ele pratica a disciplina, tanto quanto ao corpo e quanto à alma. Assim, tomamos como base para explanar este sermão intitulado “Disciplinas Para um Cristão” o versículo 14 do Cap. 4 de Efésios. Vejamos:
Texto: “Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que, com astúcia, enganam fraudulosamente”.
Resumo.
A Doutrina ocupa a maior parte do livro de Efésios. Parte do ensino nesta carta diz respeito à posição do cristão e o restante no que afeta essa posição. Com frequência quem ensina este livro ignora toda a instrução fundamental e vão diretamente ao capítulo final. É este capítulo que destaca a luta dos santos. No entanto, para beneficiar-se plenamente do conteúdo da carta, é preciso começar no início da instrução de Paulo dentro do contexto da epístola.
• Em primeiro lugar, como cristão, devemos saber quem Deus declara que somos.
• Devemos estar fundamentados no conhecimento da realização de Deus para a humanidade.
• Em seguida, a existência e caminhada atual devem ser exercitadas e reforçadas.
• Devemos continuar até que não mais flutuemos ou sejamos levados por qualquer vento de doutrina, ou pela sutileza dos homens.
Paulo divide sua obra em três segmentos principais.
1º) Os capítulos 1 a 3 introduzem princípios relativos ao que Deus tem feito.
2º) Os capítulos 4 e 5 expõem princípios sobre a nossa existência atual.
3º) O capítulo 6 apresenta princípios a respeito de nossa luta diária.
As Conexões.
A principal ligação ao AT em Efésios está no surpreendente (aos Judeus) conceito de igreja como Corpo de Cristo (Ef 5.32). Este mistério maravilhoso (uma verdade anteriormente não revelada) da igreja é que “os gentios são coerdeiros, membros do mesmo corpo e coparticipantes da promessa em Cristo Jesus” (Ef 3.6). Este foi um mistério oculto aos santos do Antigo Testamento (Ef 3.5, 9). Os israelitas que eram verdadeiros seguidores de Deus acreditavam que somente eles eram o povo escolhido de Deus (Dt 7.6). Aceitar os gentios em posição de igualdade nesse novo paradigma foi extremamente difícil e provocou muitas disputas entre cristãos judeus e gentios convertidos. Paulo fala do mistério da igreja como a “Noiva de Cristo”, um conceito nunca escutado no Antigo Testamento.
Lições Disciplinares.
• Quando nos detemos na leitura sistemática dessa epístola, de cara, encontramos o sentimento amoroso de Paulo em relação aos crentes, admoestando-os a não desfalecerem por das perseguições. Encontramos o Apóstolo Paulo fortalecendo-os de forma contundente, sabendo para o que fora escolhido a realizar em prol do Reino de Deus, “a Missão apostólica e o conselho da Vontade de Deus” (Ef 3.1-8). Dentre esse conceito nota-se a revelação da “Dispensação do Mistério da Vontade de Deus – a saber – a Igreja”. Esse mistério revela a “multiforme sabedoria de Deus, fazendo-se conhecido dos principados e potestades nos céus, segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus, nosso Senhor, na qual temos ousadia e acesso com confiança, pela nossa fé” (Ef 3.10-12). A vida de Paulo foi marcada por perseguições e prisões, mas em momento algum ele desfaleceu...
• A seguir, temos o relato notório que enfatiza a vocação a que cada um foi chamado, essa disciplina corrobora a revelação do beneplácito de Deus. O senhor quer que andemos em humildade, mansidão, longanimidade e suportando uns aos outros em amor. Essa é uma doutrina que exige prática constante porque se não deixaremos a soberba conduzir o nosso alter ego. Quando isso acontece ocorre o que podemos chamar de desvio de conduta. Para que isso não viesse a acontecer, Paulo explica a questão da unidade da fé através do vínculo da paz. Enobrece o texto fundamentando o dogma eclesiástico dizendo: “Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre, e por todos, e em todos”. (Ef 4.1-6).
• Em parte desse texto encontramos a motivação espiritual expedida, em verdade, para os cristãos Filipenses e para a Igreja nos dias de hoje. Diz assim: “Antes, seguindo a verdade em caridade, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual todo corpo, bem ajustado e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor” (Ef 4.15,16).
• Essa operação de cada parte está inserida no contexto em que Paulo, dentro da revelação recebida pelo Espírito Santo, diz: “Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo. Pelo que diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro e deu dons aos homens. Ora, isto – ele subiu – que é, senão que também, antes, tinha descido às partes mais baixas da terra? Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas. E ele mesmo deu uns para apóstolo, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo, até que cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida a estatura completa de Cristo,” (Ef 4.7-13).
• A disciplina, na jornada de Paulo, representa a metodologia espiritual de Deus aplicada na vida de quem opta por segui-lo na integra. Representa a ligação interativa do crente e seu Salvador, Jesus Cristo. A nota que esboça o conteúdo desse registro ressalta que o crente não deve permanecer na ignorância dos sentidos vilipendiosos, como: “andar como outros gentios (ou incrédulos); e, na vaidade do seu sentido; entenebrecidos no entendimento; separados da vida de Deus; na ignorância que há neles; na dureza do seu coração; os quais, havendo perdido todo o sentimento, se entregaram à dissolução, para, com avidez, cometerem toda impureza” (Ef 4.17-19).
• Essa mesma disciplina, ensinada por Paulo, dita parâmetros de eficazes resultados na vida daqueles que se submetem ao Senhorio de Cristo. Vejamos como o Apóstolo tratou desses resultados. Ele diz: “Mas vós não aprendestes assim a Cristo, se é que o tendes ouvido e nele fostes ensinados, como está a verdade em Jesus, que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso sentido, e vos revistais do novo homem, que, segundo Deus, é criado em verdadeira justiça e santidade” (Ef 4.20-24).
• A lição que segue o padrão teológico e, consequentemente, cristão está vinculada ao caráter que vai sendo moldado pelo Espírito Santo na vida diária de quem vive para Cristo. E, um dos requisitos do caráter cristão é a sinceridade quanto à sua posição de eleito do Senhor. Veja, na sequencia, o que Paulo diz: “Pelo que deixai a mentira e falai a verdade cada um com o seu próximo; porque somos membros uns dos outros. Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira. Não deis lugar ao diabo”. (Ef 4.25-27).
• No geral, nas rodas de crentes e, até de obreiros, ouve-se muitas piadas chamadas “santas”, mas a pergunta é: “Onde está registrado nas Sagradas Escrituras o momento em que Jesus pronunciou qualquer gracinha para animar a ‘galera’”? A descontração dos crentes deve estar pautada na meditação sobre tudo o que o Senhor faz em prol das almas e sobre a salvação individual. Aliás, em muitos púlpitos, atualmente, pouco se fala contra o pecado... Porque será? No entanto, veja o que Paulo diz: “Aquele que furtava não furte mais; antes trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade; Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem” (Ef 4.28,29).
• Da questão do perdão temos um quadro negro diante de circunstâncias adversas, pois, no que condiz à prática esse parâmetro está fora de moda. O lema é vinculado ao estrelismo que cada um procura para si próprio. Não há mais edificação com a promulgação de testemunhos alheios ou coletivos, a fim de promover a solidez da fé eficaz, ou seja, não se fala mais das experiências vividas com Cristo e por Cristo. O que temos é um quadro pintado com pinceis da avareza financeira e mesquinha. Com isso as brechas surgem no muro espiritual que contém o avanço da maldade humana. Também, isso leva muitos crentes a agredir o Espírito Santo. Paulo diz: “Mas a prostituição e toda impureza ou avareza nem ainda se nomeiem entre vós, como convém a santos; nem torpezas, nem parvoíces, nem chocarrices, que não convém; mas, antes, ações de graças; Porque bem sabeis isto: que nenhum fornicador, ou impuro, ou avarento, o qual é idólatra, tem herança no Reino de Cristo e de Deus; Portanto não sejam seus companheiros...” (Ef 5.3-7).
• Paulo condena veemente tais práticas, justamente, porque embaraça a vida do crente quanto à sua posição diante de Cristo e de Deus. Faz com que o elemento humano, mesmo dentro da Igreja, se torne um excluído espiritual... Por quê? Simplesmente há uma exortação clara e pesada quanto a esses mesmos elementos dentro da Igreja, uma realidade insofismável! Veja o que diz uma das cartas de Apocalipse: “E ao anjo da igreja que está em Laodicéia escreve: Isto diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus: Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca. Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu; Aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e roupas brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas. Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê pois zeloso, e arrepende-te. Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo” (Ap 3.14-20). Há crentes que não se definem quanto à sua posição diante do Senhor, portanto será vomitado. O sentido de vomitado é excluído, banido, rejeitado. Portanto, uma das características dessa carta mostra seu vinculo apocalíptico.
• A sequência da carta aos Efésios, em resumo, a partir do Capítulo 5 e versículo 22 temos uma analogia domestica em que o Apóstolo Paulo exemplifica a relação conjugal entre Cristo e a Igreja. Nessa analogia encontramos a premissa relevante que, muitos parecem ter esquecido, é a posição de Cristo em relação ao corpo (Igreja), ele é a cabeça e o próprio salvador (Ef 5.23). E chega a final do capítulo dizendo: “Porque nunca ninguém aborreceu a sua própria carne; antes, a alimenta e sustenta, como também o Senhor a igreja; porque somos membros do seu corpo... Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja” (Ef 5.29-32).
• E por fim, o último capítulo, trás recomendações quanto aos filhos e pais, servos e senhores (empregados e empregadores). Então, a partir do versículo 10 encontramos a exortação que enfatiza o método disciplinar a que os crentes devem se submeter continuamente. Esse método demonstra a condição de eleito no Senhor, revelando que além de tudo, somos soldados guerreiros e que devemos “nos fortalecer no Senhor e na força de seu poder, nos revestindo de toda a armadura de Deus, para ficarmos firmes contra as astutas ciladas do diabo; porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, as potestades, os príncipes das trevas deste século, hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais...” (Ef 6.10-18).
Aplicação Prática.
Talvez mais do que qualquer outro livro da Bíblia, o livro de Efésios enfatiza a ligação entre a sã doutrina e a prática correta na vida cristã. Muitas pessoas ignoram a “teologia” e ao invés querem discutir apenas coisas que são “práticas”. Em Efésios, Paulo afirma que a teologia é prática. A fim de viver a vontade de Deus para nós em nossa vida prática, devemos primeiro entender quem somos em Cristo doutrinariamente.
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