“Lc 15”
Introdução
Se a situação do mundo é fatal em função da crise que
o assola, devemos perceber também que há uma crise na ordem espiritual. Essa
crise desencadeou-se porque muitos homens se auferiram a patente de “Pastor”. Essa patente foi dada pelo
Senhor para que houvesse uma edificação espiritual e eclesiástica para
crescimento e fortalecimento do ministério. Um ministério oferecido pelo Senhor
chamado de “dons”, como diz as
Sagradas Escrituras: “Subiu aos céus e
deu dons aos homens”... Com tanta calamidade acontecendo simultaneamente
nos quatro cantos da terra, é natural que haja uma contrafação no meio
evangélico porque, somente, desta maneira será percebido a presença do
verdadeiro pastor. Não o pastor ausente ou apenas visto através da mídia!...
Mas, o pastor presente que assiste, na ordem pessoal, o rebanho ao qual foi
conferido para manutenção física e espiritual.
Comercializando a Lã e a Gordura da Ovelha
Os “Pastores”
da atualidade além de engomados, não exalam mais o cheiro de aprisco que é
próprio de quem está em meio às ovelhas. Hoje, eles espiram o fedor da
carnalidade, que se prestam pelo ato de comercializar com a lã e a gordura do
rebanho. São “Pastores” que
pastoreiam a si próprios com o fim único de estarem envolvidos com tal prática
comercial, apresentando-se como quem está disposto a dar sua vida pela vida de
alguém... Na verdade, muitos estão “granjeando
amigos com as riquezas da injustiça, para que, quando estas lhes faltarem,
sejam recebidos nos tabernáculos eternos. Quem é fiel no mínimo também é fiel
no muito; quem é injusto no mínimo também é injusto no muito” (Lc 16.9,10).
A situação circunstancial, destes dias hodiernos, revela que a apostasia é
crescente por causa dos falsos pastores que despojam as ovelhas de Jesus
Cristo.
Lobos Em Pele De Cordeiro
São verdadeiros “lobos
em pele de cordeiro” (Mt 7.15) que entram sorrateiramente no aprisco do
Senhor e as roubam, arrancando-lhes a fé e a confiança. Minam as expectativas
espirituais deixando uma sequela profunda... Estas ovelhas são as que estão
desgarradas do rebanho, feridas e moribundas entre as montanhas da iniquidade e
os vales da pecaminosidade. Além disso, existem outras ovelhas que não são
deste aprisco, mas que convém arrebanhá-las para que Jesus as possa curar
restaurar e salvar-lhes da vida pregressa desde então. É fácil falar de
rebanho, de ovelhas, das melhores e maiores igrejas... Mas, será que elas
representam o verdadeiro conceito de pastor, inseridas no contexto da “Parábola do Bom Pastor”? O que podemos
observar, diante da preposição factual do ensino, é totalmente contrário aos
desmandos da atualidade eclesiástica... O que vemos é a concorrência frenética
por um “ranking” mercadológico
estabelecido à custa da gordura e da lã das humildes ovelhas.
Predadores Espirituais
As disputas, por maiores e melhores apriscos (igrejas),
têm levado muitos homens a investirem no conforto físico, em detrimento do
espiritual. Como conseqüência deste empreendimento, válido até certo ponto,
quando não oferece riscos para as ovelhas, é a preocupação extremada na
intenção de perpetuar uma história que já foi contada através dos séculos. Uma
história que, sempre, coloca por terra toda a intenção exclusivista e
antropológica da humanidade. Esta humanidade é conceituada como ovelhas que não
têm pastor e ficam à mercê dos lobos devoradores, que devoram sem qualquer
sentimento de piedade. São presas fáceis levadas pelo engodo do maligno, que
conta com uma matilha feroz de verdadeiros predadores espirituais. A ovelha
perdida está a um passo de ser devorada e morta. Muitas ovelhas foram
estraçalhadas pelos caninos enfurecidos de quem, sempre, está ávido por gordura
e lã das humildes ovelhas remidas pelo “Pastor
Celestial”. Portanto, observe constantemente a “Parábola do Bom Pastor”, e compare com a situação atual
evangélica.
Um Caminho Solitário
Os “líderes”
religiosos determinaram que, qualquer pessoa que confessasse ser Jesus o
Messias, fosse excomungada, expulsos da sinagoga o aprisco deles (Jo 9.22). O cego,
curado por Jesus, insistiu na sua lealdade ao Senhor, então, “expulsaram-no” (Jo 9.34). Havia vários
graus de excomunhão; a forma mais severa, chamada “querem”, fazia com que o excomungado fosse contado como,
virtualmente, morto: “Não tinha licença
de estudar com outras pessoas, e ninguém devia lhe oferecer convívio; nem
sequer indicar-lhe a direção a seguir quando viajava”. Embora fosse
permitido comprar mantimentos para sobrevivência, proibia-se que outras pessoas
comessem ou bebessem com ele. O cego curado fizera a escolha certa. Embora tenha
sentido pesar pela rejeição dos “líderes
religiosos”, repudiado pelos que o viram passar pela rua e sem o direito a convivência
com homens bons, o que o ajudaria em sua vida.
Falsos Dominadores
O Mestre não o deixou desamparado. Quando os falsos
pastores o colocaram fora do aprisco deles, Jesus o Bom Pastor, procurou-o para
abrigá-lo no seu. Fechou-se a porta da sinagoga; abriu-se a porta do reino dos
céus. É em face de tal situação que Jesus declara: “Eu sou a porta das ovelhas... Eu sou o Bom Pastor”. O próprio
Messias, o Pastor de Israel, ofereceu acesso à segurança e ao gozo espiritual,
cancelando a sentença injusta dos falsos dominadores do rebanho, que nenhuma
autoridade tinha para admitir ou demitir pessoas na vida espiritual e na
verdadeira comunhão. Jesus é a suprema autoridade em assuntos espirituais, e
quem nele crê está livre da tirania de falsos líderes religiosos. Jesus, então,
aplica a si duas expressões tipificadas: “Ele
é a porta e o Pastor das ovelhas”.
A Porta Das Ovelhas
Jesus sempre usava ilustrações do dia-a-dia para que o
povo pudesse entender. À noite, as ovelhas são levadas para o aprisco, um
abrigo com altos muros e portão bem protegido com ferrolhos, onde descansavam
sob a vigilância de um porteiro. De manhã, cada pastor chega, e, é admitido
pelo porteiro mediante sinal combinado; então, cada um, chama suas ovelhas. As
ovelhas seguem-no ao reconhecer sua voz; não reconhecem a voz do estranho, e o
próprio porteiro não admitiria um estranho. Deste modo, qualquer falso pastor,
querendo furtar as ovelhas, teria de pular o muro. As indicações das
características da liderança espiritual são: há meios corretos e incorretos de
se obter acesso às pessoas e assumir autoridade sobre elas. Há o caminho certo,
divino, para entrar no ministério cristão, e há o caminho errado e humano.
Qualquer que quiser ministrar às almas tem que passar por Cristo, a Porta,
recebendo vocação e ser enviado, comovido pelo espírito de compaixão. Somente
através de Cristo que pastores assistentes têm acesso ao rebanho. Paulo deu
frutos porque entrou pela Porta, mediante a chamada de Jesus. Já, os filhos de
Ceva “tentaram invocar o nome de Jesus”
sem serem servos de Cristo, fracassaram (At 19.13-16).
Privilégios e Direitos
Jesus chama de ladrão e salteador o falso pastor que
entra no ministério por motivos egoístas – não para fazer o bem às ovelhas, e
sim tirar vantagens delas, visando os próprios propósitos (Mt 7.15; At
20.29,30). Muitos queriam assumir a condição de pastor diante do rebanho de
Deus sem a vocação espiritual. Insistiam nos privilégios e direitos, pensando
que as tradições que representavam eram os mandamentos de Deus, e afligiam as
almas famintas e angustiadas com interpretações próprias da Palavra de Deus e
demonstravam, no geral, não ter acesso aos corações humanos. As palavras de
Jesus se referem aos líderes religiosos dos seus dias, que excomungaram o pobre
cego pela corajosa lealdade àquele que lhe abrira os olhos. Mas, suas
advertências devem ser aplicadas aos eclesiásticos tirânicos de todos os tempos
e lugares. Ninguém pode cuidar do próximo como verdadeiro pastor se não possuir
simpatia (amor) por ele.
Ciúmes
“Todos
quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não os
ouviram” (Jo 10.8). As palavras não
são contra os profetas ou homens de Deus que vieram antes do Senhor. Ele se
refere aos falsos profetas e falsos messias que exigiam direitos pertencentes
somente a Cristo. Refere-se, também, a líderes religiosos sedentos pelo poder,
que alegavam ter domínio sobre as almas que só a Cristo pertencia. Há a alusão
aos sacerdotes e fariseus dos seus dias, que usurpavam o direito de expulsar do
aprisco os que reconheciam Jesus como o Cristo. Foi por causa da paixão e santo
zelo pelas almas? Não. Foi por ciúmes da autoridade e prestígio (cf. Mt 23.1-33; Jo 11.47-53; 12.10,11).
Quem representa a figura do “porteiro”?
O Espírito Santo, supervisionando a obra de vocacionar homens para o ministério
cristão (Jo 16.14; At 20.28; 13.2).
A Porta Da Salvação
“Eu sou a
porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará
pastagens” (Jo 14.6). O cego deve ter
pensado: “Graças a Deus! Os anciãos da
sinagoga nenhum dano pode fazer; não podem admitir ou excluir ninguém do Reino
de Deus. Porém esta pessoa, compassiva, semelhante a Deus, tão poderoso – Ele é
a porta”. Deste modo, podemos desfrutar de três bênçãos que alcançamos ao
passar pela Porta e pela viva comunhão com Cristo:
1º. Segurança.
“Salvar-se-á”. No contexto da vida
terrena, significa segurança; cura; proteção por e em Cristo, até que a
comunhão, além da morte, se revele pela salvação eterna. Pela contínua
proteção, “o Senhor me livrará de toda a
má obra, e guardar-me-á para o seu Reino celestial” (2 Tm 4.18).
2º. Liberdade.
“Entrar e sair” são frases usadas
para expressar o livre uso da moradia por parte daquele que habita seu lar. O
cristão em comunhão com Deus, recebendo a salvação, não “entra e sai” com respeito ao relacionamento; mas, como filho de
Deus, desfrutando da comunhão com Deus em família.
3º. Sustento. “Achará pastagens”. Em Cristo temos as coisas que a alma precisa para o
crescimento espiritual. “Pastagens” podem
ser aplicadas aos “meios da graça” –
a oração, a Palavra, a comunhão com irmãos nos cultos...
O Pastor das Ovelhas
Este relacionamento das almas com Cristo se compara ao
da ovelha com o pastor. Esta ilustração é normal nas Escrituras (Sl 23; 80.1; Is
40.11; Ez 34; Mq 5.4; Zc 13.7; Hb 13.20; 1 Pe 2.25). Tal ilustração diz muitas
coisas ao coração, especialmente quando levamos em conta as semelhanças entre
ovelhas e homens. Os homens tendem a seguir um líder; facilmente se extraviam
(espiritualmente); precisam de proteção; de sustento. O que o Pastor faz pelas
ovelhas? Observe o seguinte:
1º. Conduz. “E, quando tira para fora as suas ovelhas,
vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz” (Jo 10.4).
Davi disse: “Guia-me mansamente a águas
tranqüilas... guia-me pelas veredas da justiça por amor de seu nome” (Sl
23.2,3). Ele guia e conduz mediante o seu exemplo. Esta é a mais sublime
forma de liderança (Jo 13.15; 1 Pe 2.21; 1 Jo 2.6). Diferente dos falsos
pastores que buscam popularidade, ele conduz as ovelhas, vai adiante delas e
não as segue. O falso pastor dá o que
querem; o verdadeiro dá-lhes o que necessitam.
Arão era um verdadeiro sacerdote; mas, caiu no erro ao seguir a vontade do povo
(Êx 32.1-5). Não impele, porque uma das características do Messias é: ternura e mansidão (Is 40.11; cf. 1 Pe 5.2).
2º. Conhece.
“As ovelhas ouvem a sua voz, e chama
pelos nomes às suas ovelhas... e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua
voz. Mas de modo nenhum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não
conhecem a voz dos estranhos” (Jo 10.3, 4,5). Disse Davi: “O Senhor é o meu pastor”. As almas
sequiosas reconhecem seu Pastor (I Pd 2.25). Ele nos conhece pelo nome (Is
43.1; 45,3; 49.1; Ap 3.5; 2.17). O Pastor Divino conhece os nomes dos milhões
de ovelhas, bem como cada aspecto da personalidade. Vários homens, na Bíblia,
usufruíram de íntima experiência, ao serem chamados pelo nome para conversar
com o Senhor: Abraão; Moisés, Saulo de Tarso; Ananias (At 9) e Pedro; Maria (Jo
20) e Samuel, entre outras. As ovelhas o conhecem e o seguem.
3º. Dá vida às ovelhas. “O ladrão não
vem senão a roubar, a matar e a destruir; eu vim para que tenham vida, e
atenham em abundância”. O senhor tem em mente o falso pastor, o ladrão das
almas – o homem que, sem amor pela causa, se estabelece como líder baseado no próprio
egoísmo. O homem que não deseja que as ovelhas tenham acesso ao Reino dos Céus
(Mt 23.13). O “ladrão” representa
Satanás, inimigo das almas, que quer tirar a paz e alegria e dar o golpe mortal
na vida espiritual. Em contraste com os falsos pastores, Jesus declara: “Eu vim para que tenham via, e a tenham em
abundância”. Jesus oferece a plenitude da vida. O melhor exemplo para estas
palavras é o Salmo 23, do Bom Pastor. Os cristãos não são vocacionados para
viver uma vida de fraqueza e incapacidade; e, sim para ter vida abundante, vida
vitoriosa. Muitas pessoas apenas existem, mas Cristo quer que elas vivam.
4º. Morre pelas ovelhas. “Eu sou o bom
Pastor; o bom Pastor dá a vida pelas ovelhas”. Jesus se destaca do
mercenário (Jo 10.12), que pensa que o pastorado é profissão como a do
porqueiro, vinhateiro, pedreiro, advogado, médico ou negociante. O “mercenário” não se preocupa com as
ovelhas; procura apenas salário. Sua disposição não é dar de si às ovelhas; mas,
o que pode arrancar delas. Naturalmente, foge diante do perigo, porque o motivo
dominante no trabalho não é a autopreservação. Em contraste, o verdadeiro
pastor procura para as ovelhas uma vida abundante. Jesus considera a humanidade
necessitada como seu rebanho (Mt 9.36), fazendo por ela o maior sacrifício. Não
somente morreu por ela (raça humana), mas também ressuscitou para dar-lhes vida
(Hb 13.20) – voltou ao Céu com intenção
de levá-las consigo. Removeu a morte, para transformá-la em soporífico para
um despertar saudável, de modo que seus seguidores possam dizer como Davi: “Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da
morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo”.
Conclusão
O profissionalismo religioso surge quando o pastor usa
a posição e pessoas como trampolim para autopromoção, realização profissional
em posição e salário. Transforma-se em “mercenário”
que vive à custa das pessoas e não em prol delas. Não entra no ministério pela
porta que é Cristo – força caminhos por
meios humanos. O cristão é dominado pelos únicos motivos aceitáveis – amor a Cristo e paixão pelas almas.
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